Em 2008, a Biblioteca do Congresso Americano recebeu de um doador anônimo as 24 páginas da arte original de Steve Ditko, ao que foi
chamado de “dom precioso ao povo americano”. E não é exagero, tendo em vista os
efeitos culturais derivados da criação do personagem, que conseguiu extrapolar
as páginas dos quadrinhos.
Sua primeira aparição se deve aos resultados comerciais
insatisfatórios da revista Amazing Adult Fantasy (que antes se chamava Amazing
Adventures). O editor então à época Martin Goodman permitiu que Stan Lee,
juntamente com Ditko, trouxesse uma mudança inovadora para o último número da
revista, agora intitulada Amazing Fantasy: um adolescente nerd, com todos os
problemas normais de sua idade, como o herói principal.
A questão da responsabilidade é central porque caracteriza simbolicamente
a relação entre a realização do fantástico e o preço a se pagar. Peter Parker
reverte inteiramente sua situação de desvantagem social por meio do dom
gratuito “caído do céu”, impondo uma justiça anônima assinada pelo herói sem
rosto. Da inferioridade de seus pares para o estrelato midiático!
Ao testar sua potência, o personagem atinge os limites da
própria liberdade, arcando com o preço de seu presente divino. A escolha
egoísta culmina na consequência drástica, modificando para sempre o jovem
Peter.
As consequências desta edição carregam outro elemento
característico do personagem que marcará sua continuidade: o dinheiro, o que
será observado já no primeiro número de Amazing Spider-Man.
Quanto à arte, o que dizer? Estamos diante de Ditko
finalizando Ditko! Muito embora, eu considere seu trabalho posterior de
finíssima qualidade, é inegável constatar a narrativa extremamente dinâmica que
impunha, aliada ao nanquim firme e expressivo. Uma característica que aprecio
em sua arte é a capacidade de transmitir as emoções por uma certa
caricaturização do personagem.
A vendagem desta edição, que contava com mais três histórias
da dupla Lee-Ditko, superou as expectativas mais otimistas dos editores,
tornando-se o título mais rentável da Marvel no ano, mas cedendo lugar ao
vindouro Amazing Spider-Man.
Há que se mencionar que a capa pertence a Jack Kirby, já que
Stan Lee, responsável pela escolha de todas as capas, depositava total
confiança no sucesso visual de suas capas, como é possível encontrar neste
documento que faz parte da controversa disputa entre Marvel e familiares de
Kirby. A capa original pode ser vista scaneada aqui, por Brian Cronin do CBR.
Esta edição foi considerada pela Marvel como a primeira
posição em The 100 Greatest Marvels of All Time.
Algumas páginas da arte original podem ser vistas no site da
Biblioteca do Congresso Americano.
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